Combate ao Racismo no Futebol: Avanços, Desafios e a Infeliz Fala do Presidente da Conmebol – Por Euvaldo Jorge

O futebol, esporte mais popular do planeta, tem o poder de unir pessoas, culturas e nações. No entanto, também reflete as desigualdades e preconceitos presentes na sociedade. O racismo, infelizmente, ainda é uma chaga que persiste no esporte, e o combate a ele tem ganhado cada vez mais visibilidade, embora ainda haja muito a ser feito.
Nos últimos anos, diversos casos de racismo no futebol chocaram o mundo. Um dos mais emblemáticos ocorreu em 2021, quando o jogador brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, foi alvo de insultos racistas em partidas na Espanha. O atleta, que se tornou um símbolo da luta contra o racismo, recebeu apoio global, mas também enfrentou críticas e minimizações de suas denúncias. Outro exemplo recente foi o do goleiro Aranha, ex-Santos, que em 2014 foi vítima de gritos racistas de torcedores do Grêmio, episódio que resultou em punição ao clube gaúcho.
No cenário sul-americano, a Conmebol tem tentado implementar medidas para combater o racismo, como campanhas de conscientização e punições mais severas a clubes e torcedores envolvidos em atos discriminatórios. No entanto, a entidade ainda peca em ações concretas e, pior, em discursos que deveriam ser exemplares.
Nesse contexto, a recente declaração do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, foi um desserviço à luta antirracista. Ao comentar sobre a possível ausência de times brasileiros na Libertadores, Domínguez afirmou que o torneio sem os clubes do Brasil seria como “Tarzan sem Chita”. A fala, além de infeliz, carrega um simbolismo racista profundamente problemático. A figura de Chita, a macaca companheira de Tarzan, historicamente foi usada de forma pejorativa para desumanizar e estereotipar pessoas negras. Em um momento em que o futebol tenta avançar no combate ao racismo, uma analogia como essa, vinda de uma autoridade máxima do esporte na América do Sul, é inadmissível.
A declaração de Domínguez não apenas revela uma falta de sensibilidade, mas também expõe a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre como o racismo está enraizado até mesmo nas estruturas que comandam o futebol. É essencial que líderes esportivos sejam exemplos na luta contra a discriminação, e não perpetuadores de estereótipos e preconceitos.
O combate ao racismo no futebol deve ser uma prioridade constante. Campanhas educativas, punições rigorosas e a amplificação das vozes dos atletas vítimas de discriminação são passos fundamentais. No entanto, é igualmente importante que as autoridades esportivas, como Domínguez, estejam à altura desse desafio, evitando declarações que minimizem ou reforcem estereótipos racistas.
O futebol tem o poder de transformar vidas e sociedades, mas só cumprirá esse papel quando enfrentar de frente o racismo, dentro e fora dos campos. E isso começa com ações e palavras que inspirem respeito, igualdade e justiça.