Por Igor Adorno*

A redução da maioridade penal gerou um tipo de comoção, da qual compactuo em parte, que diz respeito a nossa convicção de que jovens em período de formação não podem ser tratados como “donos do próprio nariz”. Ora, se não são passíveis de responsabilização, por conta da idade, faz sentido que alguém se responsabilize por eles. E ser responsável por alguém, no fim das contas, presume o exercício de autoridade sobre tal pessoa, já que implica em incumbências acerca dela. Entretanto, se olharmos para nosso atual cenário pedagógico, seja doméstico, seja escolar, o que vemos é a recusa da assunção de tais responsabilidades. Mais, o que vemos é a recusa daquilo que torna possível pensar em “responsabilidade”.

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O modo como pensamos a educação, o papel dos professores, o papel dos pais, o papel da comunidade na formação de um jovem, é equivocado, ingênuo, romântico. Nossa recusa irracional da ideia de autoridade, nossa aversão pueril e afetada ao uso da força (pensada aqui sempre sob o risco de ser excessiva, como tudo aquilo sobre o que pairam os riscos) nos coloca num cenário em que indivíduos em período de formação são alçados ao patamar de gestores de si mesmos. Dizemos que a redução da maioridade é ruim pois o jovem não é responsável por si, mas abraçamos perspectivas que imobilizam seus responsáveis, por conta de um preconceito estúpido com a ideia de coerção. Esse tipo de tolice que concede a crianças e adolescentes a chance de decidir o que não estão aptos para, somada a um cenário em que a educação é entendida, meramente, como ferramenta de treino para o cumprimento de demandas de mercado, (quando poderia ser um instrumento para situar no mundo, explicitando papéis a cumprir diante da comunidade que nos acolhe) nos legou o que, hoje, nos choca.

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Eduardo Cunha, malgrado o fato de trabalhar em prol de causas que julgo muito distantes do interesse comum, é um político habilidoso. Vem decidindo os rumos do país enquanto o romantismo da esquerda se basta em choramingar a perversidade do mundo. A esquerda atual é burra, vaidosa, se recusa a reconhecer que o cenário não permite remendos, mas obriga a mudanças radicais. Se hoje lamentamos a redução da maioridade penal (já votada e aprovada em primeiro turno na Câmara), isso se deve à preguiça irresponsável de enxergar o cenário para além das demandas da “causa”. Se parte significativa do país concebe como correto que jovens a partir dos 16 anos sejam encarcerados, isso não é porque tal parcela da população seja, meramente, reacionária, mas sim porque as demandas da vida prática não vêm sendo satisfeitas pela beleza rosada e bochechuda da “pedagogia do diálogo”.

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Estamos perdendo jovens por conta de uma estratégia estúpida e de uma teimosia de quem enxerga a realidade por lentes de teoria (sem se dar ao luxo de olhar o modo como a realidade responde a tais expectativas). Se hoje lamentamos a vitória de Cunha (e estou dentre os que lamentam) devemos, antes de tudo, reconhecer que essa derrota que a sociedade sofreu é uma derrota patrocinada pela vaidade de quem quis medir o mundo com a própria régua, concebendo a educação e, até mesmo, o papel dos pais de um modo que deixa os jovens com o encargo da própria formação. Ser libertário é fácil com o filho dos outros. Hoje pagamos, todos. A direita que temos à disposição é anacrônica, a esquerda, irresponsável. É chegada a hora de olharmos o mundo para além dessa polaridade.

*Igor Adorno é mestrando em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), encrenqueiro profissional, filósofo nas horas vagas. Gosta de ver o circo pegar fogo porque não vai com a cara do palhaço.

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